"Presidentes Lula e Peres em Israel (GALI TIBBON/AFP/Getty
Em seu discurso na residência oficial do presidente de Israel, Shimon Peres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que "é importante que se ouça mais gente" na busca por soluções para o conflito entre israelenses e palestinos.
"Se fosse tarefa fácil, já teriam conquistado a paz. Por ser difícil, é importante que se ouça mais gente", disse o presidente brasileiro em Jerusalém.
O anfitrião Peres, que discursou antes de Lula, fez uma referência breve à possível contribuição brasileira ao processo de paz na região.
"Sei que o senhor traz uma mensagem de paz. Sua contribuição será bem-vinda", disse o presidente israelense.
Na primeira visita oficial de um presidente brasileiro a Israel, Lula tenta lançar o Brasil como mediador numa eventual retomada do processo de paz entre as duas partes, que está congelado desde dezembro 2008.
No entanto, a posição brasileira no diálogo com o Irã é vista por muitos setores da sociedade israelense como um obstáculo à iniciativa de Lula.
O ponto-chave da crítica ao Brasil está na aproximação entre Lula e o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que não disfarça suas posições incendiárias como a negação do Holocausto e o objetivo de riscar Israel do mapa.
A visita oficial de Lula iniciada nesta segunda-feira termina na quarta, quando o presidente parte para a Jordânia.
Fracasso americano
Moshe Milner/ Getty Images
"Joe Biden e Simon Peres conversam (Moshe Milner/ Getty Images)"
A crise atual entre israelenses e palestinos foi detonada durante a visita do vice-presidente americano, Joe Biden, na semana passada.
Biden planejava lançar um novo processo de negociações indiretas entre os dois lados, quando o Ministério da Defesa de Israel aprovou a construção de 112 residências no assentamento de Beitar Ilit, em território ocupado na Cisjordânia.
O anúncio foi visto como uma ameaça à retomada das negociações, mas a pá de cal veio no dia seguinte, quando o Ministério do Interior, controlado pelo Shas, partido ultraortodoxo e a favor da ampliação dos assentamentos, divulgou a aprovação da construção de 1,6 mil casas em Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como capital de seu futuro Estado.
A decisão, classificada por muitos como uma humilhação a Biden, azedou relações entre Estados Unidos e Israel e marcou o fracasso da visita do vice de Barack Obama.
Não tardou para que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, se retirasse das negociações, Israel decretasse o fechamento temporário do acesso à Cisjordânia e reforçasse o policiamento em Jerusalém.
O processo de paz já estava congelado desde dezembro de 2008, quando o presidente palestino suspendeu o diálogo com o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert. Na época, Israel tinha iniciado uma nova ofensiva militar na Faixa de Gaza.
Contribuição brasileira
Em meio a essa crescente tensão, Lula chega para sua primeira visita com a ambição de se lançar como mediador de um novo processo de paz.
Segundo o governo brasileiro, a visita de Lula "coroa" um processo iniciado há cinco anos com a aproximação gradual do Oriente Médio.
Diplomatas brasileiros ouvidos pela BBC Brasil disseram que, nessa visita oficial, o país buscaria "arejar" o debate trazendo novos atores para a mesa de negociação, como ficou evidente no discurso de Lula.
Não está claro se o Brasil traz na manga alguma proposta nova. A posição brasileira, no entanto, é conhecida.
Segundo a Presidência, a criação de um Estado palestino é uma necessidade urgente, e a ampliação dos assentamentos, inadmissível para o reinício das negociações.
Analistas americanos entrevistados pela BBC Brasil disseram que a visita de Lula pode representar um elemento novo e positivo no processo de paz, mas tem poucas chances de obter algum avanço.
O obstáculo iraniano
O principal obstáculo ao papel que o Brasil pretende desempenhar no questão da Palestina é a aproximação entre Lula e Ahmadinejad.
Durante a visita do chefe de Estado brasileiro, Israel tentará, mais um vez, alertar o Brasil sobre o "perigo" representado pelo Irã e defender a sua tese de que apenas duras sanções contra o país podem impedi-lo de desenvolver uma bomba atômica.
Mas o alerta esbarra na conhecida posição de engajamento da diplomacia brasileira, que defende o diálogo com os iranianos ao invés das sanções.
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse no domingo, ao chegar a Jerusalém, que não apenas um diálogo com o Irã ainda é possível, como também o país de Ahmadinejad pode assumir um papel de mediador na questão palestina.
"Achamos que se o Irã ficar isolado, vai ser pior. Nós já temos outras experiências muito infrutíferas de tentativa de isolamento e bloqueio. A única coisa que isso pode trazer é consolidar uma posição ainda mais dura dos iranianos", disse Garcia ao chegar a Jerusalém com comitiva presidencial.
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