A falta de concertação no anúncio da visita de Bento XVI a Portugal entre os bispos e Cavaco Silva ter-se-á devido a uma falha de comunicação.
25 Setembro 2009 - 00h30
Bento XVI: Anúncio da visita pela Presidência provoca polémica
IGREJA ZANGADA COM CAVACO
"Não caiu bem no seio da Igreja Católica o facto de a Presidência da República ter anunciado ontem, através de comunicado, a confirmação da visita do Papa Bento XVI a Portugal, em Maio do próximo ano, sublinhando que a mesma acontece "em resposta ao convite que lhe foi endereçado pelo Presidente da República".
Ora, as deslocações do Papa a qualquer país só se efectuam mediante a existência de dois convites: um dos bispos e outro do Chefe de Estado. Pode ter mais convites, mas sem estes o Sumo Pontífice não faz qualquer visita.
Neste caso, e nos últimos dois anos, chegaram ao Vaticano três convites oriundos de Portugal e dirigidos a Bento XVI: um da Conferência Episcopal, feito aquando da visita ‘ad limina’, em Novembro de 2007; outro da diocese de Leiria-Fátima; um terceiro do Presidente da República, Cavaco Silva.
Ontem, os bispos congratularam-se com a anunciada visita do Papa a Portugal, mas não deixaram de sublinhar que preferiam que o anúncio tivesse sido feito, por um lado, em conjunto com a Conferência Episcopal Portuguesa e, por outro, após as Legislativas de domingo.
D. Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, é da opinião de que 'o anúncio após as eleições teria sido mais ajustado'. Já o patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, fez saber que 'gostava' que o anúncio tivesse sido conjunto. 'Se me pergunta se eu gostava que tivesse sido simultâneo, gostava. Não aconteceu, e não há problema', afirmou.
Entretanto, a Presidência da República emitiu à tarde um comunicado em que esclarece que 'o conteúdo e o momento' do anúncio da visita papal foram acordados entre a Presidência da República e o Vaticano através da Embaixada de Portugal junto da Santa Sé.
'ERA SEGREDO DIPLOMÁTICO'
O patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, afirmou ontem quesabia desde sábado da visita de Bento XVI a Portugal, mas que não disse nada porque 'era segredo diplomático'. Desvalorizando o anúncio da Presidência da República, D. José disse esperar uma visita 'curta', muito provavelmente cingida aos dias 12e 13 de Maio. O cardeal afirmou que o Santo Padre 'aterrará em Lisboa' e disse não ter dúvida de que 'os portugueses terão por Bento XVI o mesmo carinho que tinham por João Paulo II'.
VISITAS PAPAIS
MAIO DE 1967
O Papa Paulo VI protagonizoua primeira visita de um Papaa Portugal, ao presidir às cerimónias que assinalaram os 50 anos das Aparições de Fátima. Visita durou apenas dois dias.
MAIO DE 1982
Foi a mais longa visita de sempre de um Papa a Portugal. João Paulo II passou cinco dias no nosso país, tendo visitado Lisboa, Fátima, Porto e Braga. Agradeceu a protecção da Virgem no atentado sofrido a 13 de Maio de 1981.
MARÇO DE 1983
Foi a mais curta visita de um Papa a um país estrangeiro. Aproveitando uma escala técnica a caminho da América Latina, João Paulo II esteve duas horas em Lisboa. Discursou e foi oficialmente recebido.
MAIO DE 1991
Foi a terceira visita de João Paulo II a Portugal. Celebrou missa no Estádio do Restelo, viajando depois para Açores e Madeira. Inevitavelmente, terminou o itinerário no Santuário de Fátima.
MAIO DE 2000
Esta foi uma visita muito especial de João Paulo II a Portugal. Contra as indicações da Cúria Romana, quis presidir à beatificação dos Pastorinhos Jacinta e Francisco em Fátima.
DISCURSO DIRECTO
"PRESIDENTE FOI DESELEGANTE COM IGREJA"
Correio da Manhã – O anúncio da visita do Papa Bento XVI a Portugal, em Maio de 2010, foi feito pela Presidência da República. Não acha isso estranho?
Aura Miguel – Acho muito estranho. Aliás, eu nunca tinha visto uma coisa destas. Normalmente, é feito um comunicado conjunto pelos bispos e pela chefia do Estado que o Papa vai visitar, sendo divulgado, por norma, ou em conjunto ou então pelos bispos. Sobretudo porque, como se sabe, o Papa só se desloca a um país quando convidado pelos bispos, que representam a Igreja, e pelo Chefe de Estado, que representa todo o povo. Sem esses dois convites, o Papa não realiza qualquer visita.
– O que se terá passado, então, neste caso?
– Penso que houve uma precipitação por parte da Presidência da República e que, em suma, o Presidente foi deselegante com a Igreja Portuguesa.
– A altura mais ou menos conturbada que atravessamos terá contribuído para essa precipitação? – Talvez. Eu estou em crer que este anúncio feito pela Presidência da República, que surpreendeu os bispos e até, de alguma forma, o Vaticano, não é estranho ao momento menos tranquilo, devido às eleições, que se vive em Portugal.
– A recente troca de assessores em Belém também pode ter ajudado a esta confusão?
– Bem, nesse particular, os leitores que tirem as suas conclusões.
– E a realização, pelo patriarca de Lisboa, de uma conferência de imprensa é normal?
– Isso sim, porque, mesmo não se conhecendo o programa da visita, o Santo Padre vai estar certamente na diocese de Lisboa. O mesmo sucedeu em Fátima.
– Quando é que haverá pormenores sobre a visita, nomeadamente o número de dias e os locais a visitar?
– Isso, provavelmente, só no início do próximo ano.
Entretanto, a Presidência da República emitiu à tarde um comunicado em que esclarece que 'o conteúdo e o momento' do anúncio da visita papal foram acordados entre a Presidência da República e o Vaticano através da Embaixada de Portugal junto da Santa Sé.
'ERA SEGREDO DIPLOMÁTICO'
O patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, afirmou ontem quesabia desde sábado da visita de Bento XVI a Portugal, mas que não disse nada porque 'era segredo diplomático'. Desvalorizando o anúncio da Presidência da República, D. José disse esperar uma visita 'curta', muito provavelmente cingida aos dias 12e 13 de Maio. O cardeal afirmou que o Santo Padre 'aterrará em Lisboa' e disse não ter dúvida de que 'os portugueses terão por Bento XVI o mesmo carinho que tinham por João Paulo II'.
VISITAS PAPAIS
MAIO DE 1967
O Papa Paulo VI protagonizoua primeira visita de um Papaa Portugal, ao presidir às cerimónias que assinalaram os 50 anos das Aparições de Fátima. Visita durou apenas dois dias.
MAIO DE 1982
Foi a mais longa visita de sempre de um Papa a Portugal. João Paulo II passou cinco dias no nosso país, tendo visitado Lisboa, Fátima, Porto e Braga. Agradeceu a protecção da Virgem no atentado sofrido a 13 de Maio de 1981.
MARÇO DE 1983
Foi a mais curta visita de um Papa a um país estrangeiro. Aproveitando uma escala técnica a caminho da América Latina, João Paulo II esteve duas horas em Lisboa. Discursou e foi oficialmente recebido.
MAIO DE 1991
Foi a terceira visita de João Paulo II a Portugal. Celebrou missa no Estádio do Restelo, viajando depois para Açores e Madeira. Inevitavelmente, terminou o itinerário no Santuário de Fátima.
MAIO DE 2000
Esta foi uma visita muito especial de João Paulo II a Portugal. Contra as indicações da Cúria Romana, quis presidir à beatificação dos Pastorinhos Jacinta e Francisco em Fátima.
DISCURSO DIRECTO
"PRESIDENTE FOI DESELEGANTE COM IGREJA"
Correio da Manhã – O anúncio da visita do Papa Bento XVI a Portugal, em Maio de 2010, foi feito pela Presidência da República. Não acha isso estranho?
Aura Miguel – Acho muito estranho. Aliás, eu nunca tinha visto uma coisa destas. Normalmente, é feito um comunicado conjunto pelos bispos e pela chefia do Estado que o Papa vai visitar, sendo divulgado, por norma, ou em conjunto ou então pelos bispos. Sobretudo porque, como se sabe, o Papa só se desloca a um país quando convidado pelos bispos, que representam a Igreja, e pelo Chefe de Estado, que representa todo o povo. Sem esses dois convites, o Papa não realiza qualquer visita.
– O que se terá passado, então, neste caso?
– Penso que houve uma precipitação por parte da Presidência da República e que, em suma, o Presidente foi deselegante com a Igreja Portuguesa.
– A altura mais ou menos conturbada que atravessamos terá contribuído para essa precipitação? – Talvez. Eu estou em crer que este anúncio feito pela Presidência da República, que surpreendeu os bispos e até, de alguma forma, o Vaticano, não é estranho ao momento menos tranquilo, devido às eleições, que se vive em Portugal.
– A recente troca de assessores em Belém também pode ter ajudado a esta confusão?
– Bem, nesse particular, os leitores que tirem as suas conclusões.
– E a realização, pelo patriarca de Lisboa, de uma conferência de imprensa é normal?
– Isso sim, porque, mesmo não se conhecendo o programa da visita, o Santo Padre vai estar certamente na diocese de Lisboa. O mesmo sucedeu em Fátima.
– Quando é que haverá pormenores sobre a visita, nomeadamente o número de dias e os locais a visitar?
– Isso, provavelmente, só no início do próximo ano.
FONTE - Correio da Manhã - microsoft internet explorer
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