Quando sobe à cabeça
Experimento identifica regiões do cérebro
afetadas pela bebida alcoólica e revela diferenças entre quem bebe muito e quem
bebe apenas socialmente. O estudo pode levar ao desenvolvimento de novos
medicamentos para tratar o alcoolismo.
Por: Sofia
Moutinho
Publicado
em 17/01/2012 | Atualizado em 17/01/2012
Com a identificação das regiões cerebrais
afetadas pela bebida será possível compreender melhor o alcoolismo e desenvolver
novas formas de tratamento para o vício. (foto: Bob Knight/
Sxc.hu)
Que o álcool – literalmente – sobe à cabeça de muita gente não é novidade.
Durante a ingestão de bebidas alcoólicas, o cérebro libera endorfinas,
substâncias que provocam sensação de prazer e torpor. Mas o que ainda não era
certo, e que agora foi esclarecido por uma pesquisa da Universidade da
Califórnia, nos Estados Unidos, são as exatas regiões cerebrais afetadas pela
bebida.
Para detectar os locais precisos onde as endorfinas são liberadas durante a ingestão de bebida alcoólica, os pesquisadores usaram um exame de imagem, a tomografia por emissão de pósitrons, conhecida como PET Scan. Até então, experimentos como este só haviam sido conduzidos com animais.
Os pesquisadores lhes aplicaram uma injeção com uma substância marcadora, o carfentanil radioativo, que se liga aos receptores de endorfina, sem os ativar, e os torna visíveis na tomografia. Assim foi possível mapear com precisão os receptores de endorfina no cérebro dos participantes.
Depois que o efeito da injeção com o marcador passou, cada voluntário tomou um drinque de bebida alcoólica seguido de outra dose de carfentanil e nova tomografia.
Durante a ingestão do álcool, o cérebro dos participantes de ambos os grupos liberou endorfinas que se ‘encaixaram’ nos seus respectivos receptores, não deixando espaço para a substância marcadora, que se ligou apenas aos receptores ‘vagos’.
Ao comparar o resultado das tomografias, os pesquisadores observaram que todas as ligações entre endorfinas e receptores se deram no córtex pré-frontal e no núcleo accumbens, regiões cerebrais ligadas à sensação de prazer e à motivação.
“Essa informação é especialmente importante para o estudo do alcoolismo”, diz a líder da pesquisa publicada na atual edição da Science Translational Medicine, a neurologista Jennifer Mitchell, da Universidade da Califórnia. “Conhecendo as áreas do cérebro afetadas pela bebida podemos desenvolver novas estratégias de tratamento que bloqueiem o efeito das endorfinas e desmotivem a pessoa a beber.”
Os pesquisadores também observaram que a quantidade de endorfina liberada durante a ingestão de álcool não foi diferente entre os grupos, jogando por água abaixo a ideia de que o alcoolismo se explicaria por uma maior liberação dessas substâncias no cérebro.
“Foi uma grande surpresa”, diz Mitchell. “Se as pessoas que bebem mais tivessem uma maior liberação de endorfina, faria todo sentido; essa seria a causa delas gostarem mais de beber do que os outros. Mas não foi isso que encontramos.”
“Percebemos que nas pessoas que bebem muito a quantidade de endorfina liberada está diretamente relacionada ao quão bêbadas elas se sentem e ao quão problemático é esse hábito para elas”, explica Mitchell. “Mesmo tendo bebido a mesma quantidade de álcool que o outro grupo e liberado a mesma quantidade de endorfina, essas pessoas tiveram sensações diferentes.”
Mas, de qualquer forma, Mitchell e sua equipe já trabalham no desenvolvimento de novas drogas para o alcoolismo que bloqueiam os efeitos do álcool no cérebro.
“Existem drogas como a naltrexona, que desestimulam a ingestão de bebida alcoólica ao bloquear a recepção da endorfina no cérebro, cortando o ‘barato’”, diz a pesquisadora. “Mas essas drogas agem em todo o cérebro e causam efeitos colaterais. Nossa maior aposta é reestruturar a naltrexona para agir apenas nas regiões indicadas pelo nosso estudo. Assim conseguiremos um tratamento mais eficiente para o abuso de álcool.”
Sofia MoutinhoCiência Hoje On-line
Para detectar os locais precisos onde as endorfinas são liberadas durante a ingestão de bebida alcoólica, os pesquisadores usaram um exame de imagem, a tomografia por emissão de pósitrons, conhecida como PET Scan. Até então, experimentos como este só haviam sido conduzidos com animais.
Para detectar os locais precisos onde as endorfinas são
liberadas durante a ingestão de bebida alcoólica, os pesquisadores usaram um
exame de imagem
Os 25 voluntários do experimento foram divididos em dois grupos: um com 12
pessoas que bebem apenas socialmente (até cinco drinques por semana) e outro com
13 indivíduos que bebem muito (mais de 14 drinques por semana).Os pesquisadores lhes aplicaram uma injeção com uma substância marcadora, o carfentanil radioativo, que se liga aos receptores de endorfina, sem os ativar, e os torna visíveis na tomografia. Assim foi possível mapear com precisão os receptores de endorfina no cérebro dos participantes.
Depois que o efeito da injeção com o marcador passou, cada voluntário tomou um drinque de bebida alcoólica seguido de outra dose de carfentanil e nova tomografia.
Durante a ingestão do álcool, o cérebro dos participantes de ambos os grupos liberou endorfinas que se ‘encaixaram’ nos seus respectivos receptores, não deixando espaço para a substância marcadora, que se ligou apenas aos receptores ‘vagos’.
Ao comparar o resultado das tomografias, os pesquisadores observaram que todas as ligações entre endorfinas e receptores se deram no córtex pré-frontal e no núcleo accumbens, regiões cerebrais ligadas à sensação de prazer e à motivação.
“Essa informação é especialmente importante para o estudo do alcoolismo”, diz a líder da pesquisa publicada na atual edição da Science Translational Medicine, a neurologista Jennifer Mitchell, da Universidade da Califórnia. “Conhecendo as áreas do cérebro afetadas pela bebida podemos desenvolver novas estratégias de tratamento que bloqueiem o efeito das endorfinas e desmotivem a pessoa a beber.”
Os pesquisadores também observaram que a quantidade de endorfina liberada durante a ingestão de álcool não foi diferente entre os grupos, jogando por água abaixo a ideia de que o alcoolismo se explicaria por uma maior liberação dessas substâncias no cérebro.
“Foi uma grande surpresa”, diz Mitchell. “Se as pessoas que bebem mais tivessem uma maior liberação de endorfina, faria todo sentido; essa seria a causa delas gostarem mais de beber do que os outros. Mas não foi isso que encontramos.”
Embriaguez subjetiva
Apesar das semelhanças do efeito do álcool no cérebro dos integrantes dos dois grupos, a sensação relatada pelos participantes ao beber foi diferente. Todos disseram sentir prazer conforme a quantidade de endorfinas liberadas crescia, mas apenas as pessoas do grupo dos que bebem muito relataram sensação de embriaguez.“Percebemos que nas pessoas que bebem muito a quantidade de endorfina liberada está diretamente relacionada ao quão bêbadas elas se sentem e ao quão problemático é esse hábito para elas”, explica Mitchell. “Mesmo tendo bebido a mesma quantidade de álcool que o outro grupo e liberado a mesma quantidade de endorfina, essas pessoas tiveram sensações diferentes.”
“Percebemos que nas pessoas que bebem muito a quantidade de
endorfina liberada está diretamente relacionada ao quão bêbadas elas se sentem e
ao quão problemático é esse hábito para elas”
A pesquisadora afirma que são necessários mais estudos para compreender essas
diferenças de sensação diante da liberação de endorfina no cérebro. Ainda não é
possível dizer se a maior sensibilidade ao álcool é condicionada pelo hábito ou
se é inerente ao indivíduo.Mas, de qualquer forma, Mitchell e sua equipe já trabalham no desenvolvimento de novas drogas para o alcoolismo que bloqueiam os efeitos do álcool no cérebro.
“Existem drogas como a naltrexona, que desestimulam a ingestão de bebida alcoólica ao bloquear a recepção da endorfina no cérebro, cortando o ‘barato’”, diz a pesquisadora. “Mas essas drogas agem em todo o cérebro e causam efeitos colaterais. Nossa maior aposta é reestruturar a naltrexona para agir apenas nas regiões indicadas pelo nosso estudo. Assim conseguiremos um tratamento mais eficiente para o abuso de álcool.”
Sofia MoutinhoCiência Hoje On-line
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